Desafios e Intimidade: Um Olhar sobre o Cinema Independente Brasileiro em ‘Seus Olhos e Seus Ossos’

Desafios e Intimidade: Um Olhar sobre o Cinema Independente Brasileiro em ‘Seus Olhos e Seus Ossos’

30 Junho, 2023 0 Por Murilo Fagundes

O cinema independente brasileiro enfrenta uma série de dificuldades que impactam sua produção, distribuição e alcance ao público. Embora haja uma rica história de produções independentes no Brasil, muitos cineastas enfrentam desafios significativos para realizar seus projetos e alcançar visibilidade no mercado cinematográfico.

O novo filme “Seus Olhos e Seus Ossos”, do diretor, ator e roteirista Caetano Gotardo, mostra o desafio de fazer cinema independente.

Em um bate papo exclusivo com a HQzona, Caetano Gotardo que assinou a direção, roteiro, montagem e de protagonista do filme e Carlos Escher que divide a tela com ele contaram um pouco sobre o filme e o processo de gravação.

O filme que teve seu processo de produção no período de pré-pandemia, contou com um orçamento baixo e uma equipe pequena. O diretor conta que desde o início ele foi um filme pensado para ser pequeno, mas que ainda assim existiu todo um cuidado.

“Para sobrevivência das pessoas o ideal seria fazer com mais dinheiro do que a gente fez, porque quase todo mundo trabalhou praticamente de graça ou de graça, não é o ideal nao e o modelo que se tem para se sustentar, somos todos trabalhadores do nosso ofício e temos que viver do nosso ofício, entao nao entao nao é o modelo dominante. mas ele só foi possível de se fazer esse filme assim por que era um período que a gente estava fazendo outros trabalhos, tinha mais editais e um olhar para cultura um pouco mais alimentador.”

Ele ainda reiterou que o filme foi pensado e finalizado antes da pandemia, mas que só conseguiu ser lançado agora em 2023.

o filme conta com um olhar intimista e sobre sensações, vivências e relações e deixa isso claro:

“Nos Seus Ossos e Seus Olhos isso vem muito organicamente, era um filme barato, na sua natureza, não tive que adaptá lo… sobre os personagens, os encontros dessas coisas esse olhar sobre questões de cenas cotidianas mais que vão se ampliando e vão criando ressonâncias pessoal dos personagens. sendo assim era um filme que cabia numa produção pequena.”

quanto suas inspirações pessoais e profissionais o ator Carlos Escher conta um pouco sobre trajetória e sobre esse grande leque de pessoas que o inspirou inclusive no próprio set do filme:

“É difícil responder essa pergunta porque são muitas fontes de inspiração, mas eu vou responder falando do filme então! (…) uma coisa que me deixa absolutamente maravilhado é a atuação dos meus colegas, eu adoro meu trabalho, eu adoro o trabalho do ator, eu gosto de atuar mas também adoro ver atuando. então ver esses atores dando conta desse filme, pra mim é um prazer e uma  inspiração, eu estou com gente tão maravilhosa por perto que eu vou citar os meu colegas de cena(…) todo mundo faz esse filme com um brilhantismo lindo de ver, os tempos, as respirações, as emoções o jeito as falas compridas, são mesmo sinceramente acho que ver meus colegas fazendo as cenas é uma inspiração(…)”

quanto a linguagem do filme, ele apresenta planos e monólogos bem longos, com planos bem fechados, às vezes planos detalhes dando muita importância ao tato, Caetano que assina a direção comentou um pouco sobre essas escolhas e sua parceria com a diretora de fotografia Flora Dias:

“Acho que tem uma coisa sensorial importante nesse filme mesmo, acho que é um filme que ele transita né?! Eu tenho uma relação muito forte com a diretora de fotografia Flora Dias, uma parceira de muito tempo, que eu admiro muito e acho que a gente foi encontrando uma maneira de filmar a presença dos corpos nesse filme, pra mim era muito importante, ele tem essa relação muito forte com a palavra, falas longas, mas tambem tem varios momentos de silencio, mas tambem tem varios momentos que a comunicação se dá pelo corpo também cria significados, cria narrativa mesmo. então o filme queria passear por essas coisas. pela palavra, pelo corpo, pelo silêncio, pelo movimento, pelo não movimento, enfim… pra criar esse significado no campo da intimidade, pra mim esse filme, tenta se aproximar do campo da intimidade entre os personagens e como essa intimidade se constrói ou como ela também se estranha as vezes(…) eu queria muito pela linguagem encontrar um caminho, incluir o público também, colocar o público em relação, não simplesmente como alguém que está olhando aqui de fora mas como alguém que é capaz também de alguma maneira de fazer parte desse caminho de construção dessa intimidade dos personagens, muitas vezes os personagens são filmados inteiros mas muitas vezes em detalhes também, pra ir constituindo essa relação que ultrapassa o racional do espectador com esse filme(…).

Carlos Esher ainda falou sobre sua preparação e o quanto se identifica com o personagem de muitas formas, tanto pela narrativa do filme quanto a dos seu personagem, um homem gay:

“Quem é gay já passou certamente por muitas histórias parecidas que a personagem conta, eu acho que ser gay num país tão preconceituoso e viver se defendendo e protegendo de ser agredido, porque nós somos agredidos o tempo todo, no ponto de ônibus, na rua… então eu me identifico absolutamente, poderia ser a mim aquela história(…).”

O ator ainda conta sobre sua infância na periferia de São paulo, sobre ser gay na periferia, sobre a violência e como toda essa vivência o ajudou na preparação do personagem.

“Seus Ossos e Seus Olhos” chegou aos cinemas em junho de 2023 depois de longa caminhada, vale a pena a sua atenção, carrega uma produção muito íntima de uma equipe que acredita e confia na história que está contando e que merece ser contada.